Há quem compare a região do Alentejo à Toscânia. Une-as a “alma gastronómica”, os vinhos e uma a paisagem modelada pelo homem, verdadeiro repositório de existências e vivências resultante de uma memória identitária forjada ao longo de milhares de anos. O Sítio do Monfurado, de Interesse Comunitário e integrado na Rede Natura 2000, abrangendo os concelhos de Montemor-o-Novo e Évora, é um desses locais que a presença humana transformou num local seminatural, de grande riqueza e biodiversidade e onde o megalitismo constitui o “fio condutor” desse repositório, tal a profusão de vestígios da milenar presença humana.
No Alentejo descobrimos, aqui e ali, casas térreas que pintam de branco o alto dos cabeços, enormes chaminés, por vezes mais altas que as próprias casas, com rodapés e padieiras pintadas de azul ou de ocre; recintos amuralhados, ou a magia associada à antiguidade de uma anta ou de um menir. Locais onde a cultura e a espiritualidade ganham um caráter muito particular. A cidade de Évora, classificada Património Mundial, é disso um bom exemplo: o templo de Diana e algumas das suas igrejas, como a de S. Francisco, a Capela dos Ossos ou a Catedral – a maior da era medieval em Portugal – marcam a sua memória e identidade. A Serra D’ Ossa, entre Estremoz e o Redondo, onde se destaca na meia encosta o Convento de S. Paulo, erigido em 1376, é um desses belos locais: tranquilos, acolhedores e inspiradores. Terá sido essa a razão pela qual os monges da Ordem de S. Paulo Eremita se fixaram na região em 1182. Habitada desde tempos imemoriais, e designada por Monte de Vénus anteriormente à ocupação cristã (35 dC), a Serra D’Ossa foi altar de Deuses, lugar de forte presença monástica e culto cristão que perdurou ao longo de séculos, tendo acolhido os Duques de Bragança, e reis como D. Sebastião, D. João IV e D. Carlos. Como disse Eugénio de Andrade, são esses horizontes “onde o olhar se estende e consome” que vos propomos descobrir.
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